Política

FH diz que maconha não é caso de polícia, mas de tratamento dos dependentes

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu nesta segunda-feira que o país inicie um debate profundo sobre a descriminalização da maconha como meio de enfrentar a guerra contras as drogas. O desafio polêmico foi lançado durante o pré-lançamento do documentário "Quebrando o tabu", em que FH é o protagonista. Uma cópia do filme, que chega aos cinemas na próxima sexta-feira, foi enviada, a pedido do ex-presidente, à presidente Dilma Rousseff.

VÍDEO : Assista a um trecho do depoimento do ex-presidente Fernando Henrique

- Nós não estamos falando de um criminoso. Estamos falando de muitos próximos de nós. A gente finge que não é. É um comodismo. A gente tem que sacudir a sociedade - disse Fernando Henrique após a exibição do documentário, à noite, em São Paulo.

O tucano destacou que não se trata de defender a legalização das drogas. Também esclareceu que o documentário não traz uma receita para o problema.

- O filme não é de tese, é de abrir um debate. Não estamos pregando receitas - explicou.

Na tela, o ex-presidente assume a liderança de um debate polêmico sobre a descriminalização da maconha no Brasil. Dirigido pelo jovem Fernando Grostein Andrade, FH viaja a diversos países, como Portugal, Holanda e Estados Unidos, para mostrar experiências de política de combate aos usuários da maconha. No final, se diz convencido de que o caminho está em tratar a questão do ponto de vista de saúde pública e não como caso de polícia.

- Só quem é burro que não muda de opinião diante de fatos novos. Eu não tinha consciência da gravidade e do que significava essa questão, naquela época como tenho hoje - diz o ex-presidente em sua primeira aparição na tela.

Ele defende de forma clara a descriminalização da maconha, alegando que o dependente tem que ser visto como doente e não criminoso, que ele precisa de tratamento e não de prisão. Seguem a visão do brasileiro ex-chefes de estado como Bill Clinton e Jimmy Carter, além de ex-presidentes da Colômbia, México e Suíça, que fazem depoimentos explicando por que mudaram de opinião sobre o assunto depois que deixaram os governos.

- Os presidentes têm limitações. Se a sociedade não se convencer é difícil que o governo avance nessas matérias. A luta tem que ser dada na sociedade civil. Não acho que seja tema para agora estar sendo discutido no Congresso. Não tem preparação para isso ainda - resume Fernando Henrique.

O filme tenta retratar o fracasso da política de combate às drogas aos mostrar que há 40 anos os Estados Unidos levaram o mundo a declarar guerra às drogas, mas os danos causados nas pessoas e na sociedade só cresceram nesse período. O filme, do jovem diretor Fernando Grostein Andrade, foi gravado em oito países - Brasil, Portugal, Holanda, Colômbia, Suíça, França, Argentina, Estados Unidos - e levou dois anos para ficar pronto.

Para defender a descriminalização da maconha, outro argumento usado é o de que a criminalização ajuda a fortalecer o crime organizado. Na Holanda, FH visita os tradicionais cafés onde são permitidos a venda e o consumo de maconha. Também foi a Portugal conhecer os resultados da política de descriminalização. No Brasil, visitou favelas do Rio de Janeiro para colher depoimentos de ex-traficantes, usuários e famílias vítimas da violência causada pelo tráfico de drogas.

Nesta segunda-feira à noite, houve uma exibição do filme para convidados.